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Arrancada Heróica 78 anos

20/09/2020 | Por Daniel Grandesso

Foto por - (Divulgação)
Muitos e mais renomados palmeirenses já tiveram oportunidade de contar, com maior propriedade, os fatos que serão a seguir reproduzidos. Vou contar o que eu sei e li a respeito.

Em primeiro lugar, há que se lembrar que em 1942 o mundo vivia as mazelas da 2ª Guerra Mundial. De um lado, os países do Eixo (Japão, Alemanha e Itália), do outro, as Forças Aliadas, de quem o Brasil fazia parte. Resultado: tempos de muita perseguição aos imigrantes italianos.


Em abril daquele ano, Getúlio Vargas promulga um Decreto em que proibia em qualquer entidade o uso de nomes relacionados aos países do Eixo, sob pena de perda de seu patrimônio.

Essa possibilidade de encampar para si todo o patrímonio do Palestra Itália fazia com que os dirigentes do então inexpressivo São Paulo, à época sem estádio, esfregassem as mãos.


A pressão política e desportiva persistiu mesmo após a troca do nome. A implicância se dava com a palavra [de origem grega] “palestra”, que ainda resistia no nome da recem criada S.E. Palestra de São Paulo.


Enquanto isso, a campanha do time era de causar inveja. Às vésperas de enfrentar o São Paulo, o Palestra contava com 18 jogos, somava 16 vitórias e apenas 02 empates. Marcara 61 gols e sofrera apenas 15. Uma vitória do verde confirmaria mais um título paulista.


No dia 14 de setembro, na semana que antecedeu o jogo do título, o diretor de esportes da cidade de São Paulo, em nome de “entidades superiores”, exigiu que o nome fosse mudado novamente, naquela que era a data limite para o atendimento ao Decreto-Lei de Vargas.

E foi então que, naquela noite, o Palestra passou a ser chamar Sociedade Esportiva Palmeiras, excluindo-se o nome da palavra [grega!] Palestra e a cor vermelha que compunha o uniforme em conjunto com o verde e o branco.

O que estava por vir, no dia 20 de setembro seguinte, eu empresto o texto de Miro Tavares que, com muito mais propriedade, narrou [texto integral publicado originalmente em http://palestrinos.sites.uol.com.br/Palmeirenses/Cronicas_e_Hitorias/Miro-11.htm é leitura obrigatória]:


“Chega-se finalmente o grande dia, o clima em toda a cidade de São Paulo não poderia ser diferente Todas as atenções estavam voltadas para o estádio do Pacaembu, que recebera um enorme público. Ao PALESTRA uma vitória garantia-lhe por antecipação o título Paulista de 42. E também toda a expectativa que acabou envolvendo as torcidas dos dois protagonistas: PALESTRA e São Paulo F.C. Sejam no campo esportivo ou político.
Para “apimentar” ainda mais a partida, fora colocado em disputa o “Troféu Campeoníssimo” (instituída pelo nosso adversário) entre o “trio de ferro” (PALESTRA, Corinthians e São Paulo) que com uma só conquista, ficaria de posse definitiva da equipe que fosse campeã. O referido troféu era uma enorme escultura em bronze em tamanho natural, retratando um jogador de futebol. Hoje, para a nossa alegria, ornamenta a nossa riquíssima sala das conquistas alviverdes. Chegou-se a pensar que aquela escultura que ali está, referia-se a algum atleta alviverde, mas é fruto de nossa laboriosa conquista de 42.
Aqueles “oportunistas e covardes”, ainda não se contentando em ver o PALESTRA, ter sido obrigado a mudar o seu nome, tentaram armar um clima totalmente hostil. A esquadra palestrina, assim que adentrasse o gramado do estádio Municipal do Pacaembu, naquela histórica tarde, seria recebida com uma estrondosa vaia, jamais endereçada a uma equipe de futebol no Brasil.
Sabendo do ardil são-paulino, os palestrinos tiveram a seguinte idéia: O oficial do exército brasileiro o Capitão Adalberto Mendes (3º vice-presidente), adentraria ao gramado juntamente com os jogadores alviverdes, ostentando uma enorme bandeira brasileira. Obs: A imagem de nosso glorioso PALESTRA-PALMEIRAS surgindo ao gramado com a bandeira nacional e o oficial do exército ficou perpetuado em pinturas, gravuras, fotos como: Arrancada Heróica… de 1942!
Como diz a introdução de nosso amado hino: “Quando surge o Alviverde imponente…” e adentra ao gramado do Pacaembu, todo o estádio silencia-se por alguns instantes. Ao invés de hostilidades e vaias, foram nossos atletas esmeraldinos, recepcionados e aplaudidos de pé, tanto pela a gente palestrina, como pelos contrariados são-paulinos. Pois, todos que ali estavam, perceberam, que tantos aqueles atletas alviverdes, como o clube que representavam, eram tão brasileiros, quanto a todos que ali se encontravam. Aqueles entusiastas italianos, assim como amavam a sua antiga Pátria, também, nutriam por aquela nova terra que os acolheu, um enorme carinho.
Mas ao iniciar a partida, aqueles jovens palestrinos em campo, não havia esquecido, dos que os perseguiram e o obrigaram a trocar o nome de seu amado “filho”. Os atletas alviverdes disputavam cada bola e defendiam a meta palestrina, como se fosse a própria vida.
Não demorou muito, e abrimos o placar aos 20 minutos de jogo, através do jogador Cláudio; 3 minutos depois, Waldemar de Brito, empata a partida 1 x 1. Partida nervosa, muito disputada, mas aos 43 minutos da primeira etapa, o PALESTRA, volta a ficar a frente do placar, através de Del Nero. O primeiro tempo termina 2 x 1 para a equipe palestrina.
Inicia-se o segundo tempo, que prometeria fortes emoções aos presentes no Pacaembu, pois a vitória garantia o título de Campeão Paulista ao PALESTRA ITÁLIA, e a equipe são-paulina, só a vitória interessava. Mas para a alegria da imensa massa palestrina, o glorioso alviverde, amplia o placar para 3 x 1, aos 14 minutos da etapa complementar, através do jogador Echevarrieta.
Os jogadores são-paulinos sentiam que nada conseguiram abalar o ânimo daqueles palestrinos. Então começaram a armar uma “farsa” naquela tarde no Pacaembu. Aos 19 minutos do segundo tempo, o árbitro Jaime Janeiro, expulsou de campo o atleta são-paulino Virgílio, após entrada desleal em Og Moreira e assinalou um pênalti a favor do PALMEIRAS.
Os jogadores tricolores recusaram-se a dar prosseguimento a partida, e após se reunirem no meio campo, decidiram sentar-se ao gramado, impedindo com isso a cobrança de pênalti e o prosseguimento da partida. Ou seja, fugiram da possibilidade de uma goleada iminente, pois sabiam, que se com 11 contra 11 as coisas estavam difíceis frente à equipe esmeraldina, tamanha era a disposição que os atletas alviverdes disputavam aquela partida, o que dirá com um atleta a menos.
Para a irritação de todos ali presentes, sejam atletas ou torcedores palestrinos, o São Paulo, resolveu “fugir” de campo, para que a vergonha não fosse ainda maior. O árbitro Jaime Janeiro aguarda o tempo regulamentar e dá a partida por encerrada. Para a alegria da imensa coletividade palestrina-palmeirense, seja presente no estádio, em toda a cidade de São Paulo, ou em qualquer lugar em que houvesse um torcedor palestrino, o glorioso, sofrido, perseguido, injustiçado, mas acima de tudo, AMADO PALESTRA ITÁLIA, sagrava-se CAMPEÃO PAULISTA DE 1942. Melhor ainda, que fora sobre aqueles que mais nos perseguiram naqueles idos de 1942.
Assim encerra-se mais uma página histórica da gloriosa saga alviverde, que desde o ano de 1914, abrilhanta o esporte no Brasil. Uma célebre frase poderia resumir o que foi a conquista do título Paulista de 1942.
“Morre  O PALESTRA LÍDER, e  nasce O PALMEIRAS CAMPEÃO ! ”
Muitos e muitos anos depois, em 2005, a Câmara Municipal aprovou e o Prefeito José Serra sancionou projeto de lei que estabelceu 20 de setembro o Dia do Palmeiras. Desde então, no jogo que antecede a data histórica, o time do Palmeiras tem entrado em campo repetindo o gesto dos campeões paulistas de 1942: Com a bandeira do Brasil em mãos, simbolizando e reencenando a “Arrancada Heróica”.


Fontes: Site oficial do Palmeiras www.palmeiras.com.br e os levantamentos feitos pelo site www.palestrinos.com.br.
(texto originalmente publicado 
aqui em 14.09.2010, dia da inauguração do Maluco pelo Palmeiras).

AUTOR

Daniel Grandesso

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