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Malandro é malandro, mané é mané

20/09/2020 | Por Taylon Moro

Foto por - Fonte: Gazetapress

-  “Gols acontecem, não é questão de falta de atenção. Faltou segurar a bola no ataque. Não tem a necessidade de fazer o segundo gol, tem que tocar mais, ganhar tempo, virar a bola. São dois jogos que deixamos empatar e isso incomoda. Mas futebol é dessa forma.”

- "Foi uma rodada atípica para os times do topo da tabela."

- “Faltou ser mais malandro”

- “Acho que fomos bem superiores ao Inter e a reação do time foi muito boa. Estávamos sempre saindo na frente e cedendo empate. Hoje, saímos atrás e conseguimos ter força de buscar o resultado.”

- Até a hora do gol, tínhamos o domínio do jogo. Depois, não sei como, o pessoal deu uma encolhida. Chegou para trás e deixamos de agredir como estávamos agredindo.”

"Foi um jogo muito igual. No primeiro tempo, tivemos um volume maior que o do Fluminense, mas recuamos. Chamando o adversário para cima de você, complica.”

      As seis frases acima foram ditas em seis entrevistas coletivas dadas por Vanderlei Luxemburgo após os seis empates que o Palmeiras obteve no Campeonato Brasileiro até aqui. Frases semelhantes, erros semelhantes e 12 pontos preciosos deixados pelo caminho, em um ano de competições disputadas a cada 3 dias, e nivelada tecnicamente por baixo, onde cada triunfo faz toda a diferença para subir na tabela.

      Aliás, sobre empates, vale lembrar a informação: em 10 jogos, já foram 6 empates. Em toda campanha do enea, tivemos 8. Na do deca, 11. A não ser que o objetivo da equipe seja atingir os 45 pontos e se livrar do rebaixamento ou ir em banho-maria se mantendo no G-6, a postura palmeirense de competitividade está longe de um time que deseja encerrar o ano com um título além do Paulista vencido sob o rival.

      Outra questão que demonstra a falta de espírito vencedor na equipe é que, ao longo das últimas rodadas, o Palmeiras teve diversas oportunidades para assumir a liderança da competição, mesmo com um jogo a menos que os rivais. Porém, a instabilidade dentro das partidas e a inoperância ofensiva faz com que o ditado “o medo de perder tira a vontade de vencer” seja visível na testa do comandante, responsável pela liderança técnica, tática e mental do Palmeiras.

      O torcedor deve resgatar a sua memória que, para além das vitórias sobre Santos, Corinthians e Bolívar, na altitude, o Palmeiras teve desempenho desprezível na maior parte dos jogos. Os jogos não se resolvem apenas com discursos motivacionais, depois disponibilizados da TV Palmeiras, buscando comover o torcedor e esconder a falta de ideias presentes em campo para ter desempenho minimamente aceitável e resultados mais consistentes contra clubes com menor estrutura.

“Ah, mas empatar com o Grêmio no Sul não é de todo ruim”;

“Empatar com o líder Internacional é um bom resultado pra se manter lá em cima”

“O Bahia é um time difícil de ser batido em Pituaçú.”

      Essas alegações não podem mascarar que, para um time que deseja ser campeão em qualquer competição, não pode haver desculpas como essas. Grêmio e Bahia vinham em crise há semanas, o Inter estava com o time todo remendado. Isso pra não falar dos jogos contra Fluminense e Goiás, em que somados chutamos apenas 4 bolas no alvo, ou da partida contra o Sport em que Luxemburgo matou o time no segundo tempo com as substituições. O Palmeiras joga um futebol burocrático, sempre fazendo o mínimo em campo. E, por isso, já viu o resultado escapar em tantas circunstâncias, inclusive em decisão de título paulista.

      As vitórias? Ok, além das boas atuações nos clássicos, as vitórias contra Athlético Paranaense e Bragantino vieram basicamente pelo talento individual e pelo acaso. Então, para quem não possui uma ideia de jogo pré-estabelecida, sem saber o que fazer com a bola em momentos-chave, ganha-se no acaso e perde-se no acaso. Não há certeza de como acabará o jogo, pois o time depende de uma defesa razoavelmente consistente (na base das individualidades) e de alguma das figuras da base ou Luiz Adriano decidirem lá na frente.

      Quando enfrentou em 2018 o Grêmio com time titular, campeão da América do ano anterior, o Palmeiras soube ir à Porto Alegre e mandar no jogo lá, tendo vitória contundente sem sofrer e criando várias oportunidades de gol. O Palmeiras de hoje está longe disso. Na partida deste domingo, com poucos 37% de posse de bola, o time errou 1 passe a cada 4 que tentou, terminando o jogo com 257 completos, abaixo da média do pior no quesito e lanterna da competição, Goiás. Um primeiro tempo sem nada fazer, um segundo com um gol encontrado como em muitas ocasiões. Fora isso, um trio ofensivo entre Luiz Adriano, Wesley e Verón que tocaram apenas 12 vezes na bola, sem nenhuma finalização.

      A vitória seria importante de fato, e muito. Mas foi mais um empate intragável, com gols. Mais um tomado em um cruzamento, como contra Bolívar, Bahia, Santos, Fluminense e Corinthians.  Não seria uma vitória dessa que deveria empolgar o torcedor pela sequência de invencibilidade e conquistas importantes. O time não pode ser limitado ao “vai, vai, vai”, “volta, volta”. Muitas escolhas da comissão, dentro e fora de campo, não fazem o menor sentido, como quando Vanderlei disse que o time deveria manter mais a bola exatamente no momento quando tira um meio-campo e coloca um zagueiro. A verdade é que o futebol de hoje não se resume aos gritos e às boas intenções. Depende de planejamento, treinamento e execução, onde estamos bem aquém.

      Se compararmos o comportamento do time atual após iniciar a partida vencendo com o Flamengo do ano passado ou o próprio Palmeiras de 2018, também vemos uma nítida diferença, além da falta de ideias: o comodismo. Não se busca pressionar para ampliar a vantagem. Há morosidade, recuo, diferente do Inter de Coudet ou do Galo de Sampaoli. Não há gana, tampouco uma linha ofensiva de raça. Sintomático. Ninguém aqui está pedindo a cabeça de treinador algum, como os passa-panistas querem demonstrar exageradamente para esconder os vários erros da comissão técnica e do time. Deve haver respaldo ao trabalho que está sendo feito, porém não podemos repetir tantos erros passdos. O Palmeiras eliminado da Libertadores em 2017 e 2018 jogou passivamente e com medo contra Barcelona-EQU e Boca Juniors. No final do confronto, custou caríssimo, com um time que não sabia como ir em busca do resultado. Não é o mínimo que vai resolver em grandes noites.

      O impacto desse contexto reflete diretamente nos atletas. Viña, por exemplo, lateral de grande potencial, ainda não deu muitos lampejos ofensivos, como era sua característica no Nacional do Uruguai. Bruno Henrique e Ramires, mesmo fisicamente e tecnicamente bem abaixo, também são afetados pela dificuldade de construção. Nossos meias idem, conseguindo um jogo ou outro um pouco melhor, oscilando bastante. Nossos garotos da base, mesmo com toda a qualidade, também estão sendo bastante afetados, até por terem passado por uma transição bastante rápida para o profissional, e assumindo uma bronca grande em uma equipe sem padrão nenhum. Luiz Adriano, artilheiro eficiente, poucas bolas recebe para fazer seus gols.

      Desse modo, o discurso não pode se limitar a falta de malandragem do time para vencer o jogo na ralé. Faltou malandragem na altitude? Parece que não. Nos dois clássicos recentes? Também não. O time precisa crescer muito ainda em termos de desempenho, comportamento e regularidade para que 2020 não seja um ano que passou lá fora, na janela, enquanto perdemos uma boa oportunidade de vencer, pelo campeonato nivelado por baixo. Não podemos abdicar da crítica, independente do resultado entregue. O palmeirense não pode contentar com tão pouco, ainda mais quando, há sim, potencial disponível para fazer muito mais com um bom elenco para os padrões nacionais, com jogadores promissores e um técnico experiente e vencedor. Mas, para isso, o alarme tem que tocar.

      Se continuar nesse papo de malandragem, Luxemburgo vai se tornar o que já parecemos ser: completos manés, por sempre levar a sério o time. Diferentemente da música dos Titãs, nem sempre o acaso irá lhe proteger quando o time estiver distraído, Luxemburgo. Dance conforme a música, pois sabe que, estando no Brasil e nessa gestão de futebol sem rumo, quem pode dançar a qualquer momento é você.

AUTOR

Taylon Moro

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Comentários:

Francisco Cesar Jannuzzi
Parabéns pelo texto, é exatamente isso que está acontecendo. Vejo o proprio Luxa sem aquela gana de vencer, muito burocrático. Quando imaginei ver o Luxa tirando um meia e colocando um zagueiro. Abs
LEANDRO
Ótimo texto Malandro é ELE q ganha MUITO e não ganha de NINGUÉM com sua covardia Mané somos nós q ficaremos putos com as eliminações será uma realidade se a POSTURA NÃO mudar
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